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quarta-feira, 7 de julho de 2010

Dentro do ônibus [2]

Acordou com o saculejo do ônibus. Olhando pela janela viu o nascer de mais um dia se aproximar, mas dentro de si a escuridão da noite ainda habitava. Eram sonhos loucos os que vinha tendo, que a deixavam atordoada. Ainda faltava algum tempo para chegar ao seu destino e seu estômago começou a gritar por comida. Lá fora o frio parecia congelar o mundo, que silencioso devorava as horas. Sentada ali vendo o mundo passar ela percebeu a infinitude de rumos que sua vida poderia tomar por causa de sua decisão, por isso não acreditava em destino, mas em escolhas. Seu estômago a lembrou de que ainda estava viva e ela teve que atender ao chamado. Desejava não ter mais que comer, para não mais ter com o que se preocupar. Estava cansada de viver presa ao mundo, talvez fosse covarde demais para se matar, mas simplesmente não gostava daquela vida. Sonhadora porém ela nunca deixou de ser, só queria encontrar a felicidade verdadeira. Alguém agora roncava alto lá atrás e a senhora dormia tranquilamente, não tinha como sair sem acordá-la. Sem fazer nenhum barulho puxou o pacote de biscoito que estava na mochila da mulher e começou a devorá-los. Ela amava aqueles biscoitos de polvilho e esquecendo tudo que deixava para trás, sorriu em resposta ao seu estômago, que agora parava de roncar.

Continua...